Segundo - 2005 (Toranja)
Atualizado: 21 de fev. de 2021

01 Outro Mundo
02 Laços
03 Ensaio
04 Música de Filme
05 Ciclo
06 Sangue que Ficou
07 Quebramos os Dois
08 Só Eu Sei Ver
09 Restos
10 Doce no Chão
11 Copo Vazio
12 Confiar
13 Tempos Adversos
14 Contos
01 Outro Mundo
Queres-te a ti
A subir
Sem parar
Queres comer
Queres roer
Queres ganhar
À frente há sempre a razão
Podíamos tentar viver noutro mundo onde fosse fácil deixar para trás...
estamos juntos mas tão pequenos e tudo maior do que nós!!
Queres amar
Sem sofrer
Sem cair
Queres vender
Queres comprar
Queres fugir
Onde é que vai o coração?
Podíamos tentar fazer deste mundo uma espécie de sítio melhor...
estamos juntos mas tão pequenos e é tudo maior do que nós,
tudo maior do que nós!
O povo quer é cantar
O povo quer é dançar
O povo quer é saber
o que nao ha para fazer...
O povo quer é olhar
O povo quer comentar
O povo quer criticar
quem se tenta mexer...
Farto do tempo
Pedaços de gente
a andar por aí...
Farto do escuro
Sou resto de sol
farto de mim.
02 Laços
Andamos em voltas rectas na mesma esfera,
onde ao menos nos vemos porque o fumo passou
E a chuva no chão revela os olhos por trás
Há que levar o restolho do que o tempo queimou
Tens fios de mais a prender-te as cordas
mas podes vir amanhã acreditar no mesmo deus
Tens riscos de mais a estragar-me o quadro.
Se queres vir amanhã acreditar no mesmo deus,
devolve-me os laços, meu amor
Andamos em voltas rectas na mesma esfera
Mas podes vir amanhã,
se queres vir amanhã,
podes vir amanhã
Tens riscos de mais a estragar-me a pedra
Mas se vieres sem corpo à procura de luz,
Devolve-me os laços, meu amor
Meu amor
03 Ensaio
Não vês a agonia a escorrer nas paredes
As portas não param de ranger
É como um corte que entra no tímpano
Não aguento o barulho de dentro
Já não estou só!
Já não estou só eu a ouvir...
Já anda nas ruas!
Já comentam por aí!
Qualquer coisa não está bem...
Fala-se demasiado alto para quem está tão longe...
Fala-se demasiado alto para quem está tão longe...
Mas não tinha que haver pedrada alguém levou por arrasto.
Mas não tinha que haver pedrada alguém levou por arrasto.
A luz continua presa ao tecto
Por mais que se tente tirar
está alta de mais
ou encandeia os olhos
ou queima quando se toca
parece que sabe queimar
Parece que não tenho janelas
Não entra ar aqui!
Não entra ar aqui!
Tira a mão quente dos olhos
Tira o frio da frente
Já tenho tão pouca gente para me encontrar
Desata-me os olhos, desata-me a cara,
desata o teu corpo dentro do meu
Tira-me a voz que puseste no tempo
que não está a querer desistir
de pisar os membros no chão
de arrancar os braços no tecto
Tira-me de mim, vá tira-me de mim
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova…!
04 Música de Filme
Dentro de mim
Por dentro de mim
É pena quase não poder ficar
És quente quando a luz te traz
Quase te vi amor
Quase nasci sem ti
Quase morri
Dentro de mim
Ficas dentro de mim
Por dentro de mim
Estás dentro de mim
Silêncio, lua casa, chão
És sitio onde as mãos se dão
Quase larguei a dôr
Quase perdi
Quase morri
Dentro de mim
Estás dentro de mim
Por dentro de mim
Ficas dentro de mim
Sempre sou mais um homem,
mais humano,
mais um fraco,
sempre sou mais um braço,
mais um corpo,
mais um grito
sempre..
Dança em mim!
Mundo, vida e fim!
Dorme aqui
Dentro de mim..
É pena quase não poder ficar
no sítio onde as mãos se dão
Quase fugi amor
Quase não vi
Vamos embora daqui
para dentro de mim
05 Ciclo
Vem quente
à solta
forte
vem bem
Mexer
provar
focar
também
Vem gente
à solta
forte
comer
Vazio
sem cor
para quem quiser
Vem quente
à solta
forte
vem bem
Mexer
provar
focar
também
A gente
à solta
à sorte
quer estar
sem frio
sem dor
para respirar
Mas tudo vem atrás
Tudo vem atrás
Tudo vem atrás
Estou fraco
humano
a derreter
Há gente
à chuva
sem sair
Vem quente
à solta
forte
sem ver
Que gente
à chuva
quer nascer
Mas tudo vem atrás
Tudo vem atrás
Tudo vem atrás
Se a mão estende a mão, desenha o corpo, faz viver
O verbo desfaz a cor a mais, e a dor é só por ver renascer.
06 Sangue que Ficou
Vê que o tempo não parou
Vê que o tempo não parou
Vê o rasto que deixou
Vê o rasto que deixou
por trás de ti
no meio de nós
Vê o sangue que ficou
Quando o fumo nos queimar
Quando o fumo nos queimar
fica o medo de parar
fica o medo de parar
por trás do fim
no meio de nós
Vê o sangue que ficou
Quando o tempo deixar
vai haver mais paz
vai haver alguém para ter, para dizer... ficar.
07 Quebramos os Dois
Era eu a convencer-te de que gostas de mim,
Tu a convenceres-te de que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
e eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar para esconder a saudade,
e eu a esconder-me do que não se dizia.
Afinal, quebramos os dois
Desviando os olhos por sentir a verdade,
juravas a certeza da mentira,
mas sem queimar de mais,
sem querer extinguir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro,
por saber que era o fim da roupa vestida,
que inventara no meio do escuro onde estava,
por ver o desespero na cor que trazias.
Afinal, quebramos os dois
Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxares-me para um lado mais perto,
onde se contam histórias que nos atam
ao silêncio dos lábios que nos mata.
Eras tu a ficar por não saberes partir,
e eu a rezar para que desaparecesses,
era eu a rezar para que ficasses,
tu a ficares enquanto saías.
Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
porque quebramos como crianças.
Afinal... quebramos os dois afinal
É quase pecado que se deixa,
quase pecado que se ignora.
08 Só Eu Sei Ver
Desfaz-se o tempo em rotinas e vontades
em projectos e verdades
em desgostos que se alastram
em vestígios distorcidos
de nascentes que encontramos
E é sempre quando seca que
tudo se tem que se agarrar
a tudo o que faz fugir
e a verdade passa a estar
no fundo dum copo cheio do que se quer ser
e a beata no chão que faz os olhos arder
é a nova moda das crianças que ainda estão a aprender
como têm que estar e andar e beber
e dançar e comer e falar e ouvir
e sentar e sorrir pra saber existir
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Desfaço-me em pedaços, em retratos
em mentiras que trocámos e abraçámos
sim, fugimos mas voltámos
e o que presta,
é o que esta em nós.
Num fim de festa onde
todos sabemos quem somos
ou quem não se quer lembrar
ou quem precisa de estar
perdido noutro sonho
a mesma noite, o mesmo copo,
o mesmo corpo, a mesma sede que não sabe secar
Onde se encontra sem se procurar
Onde se dança o que estiver a tocar
Muito fumo muito fogo muito escuro
onde somos o que queremos
Quase somos o que queremos
Quase fomos o que queremos
Só eu sei ver o sol nascer
Só eu sei ver o sol nascer
Quase fomos o que queremos
Quase somos o que queremos
Quase fomos o que queremos
Quase somos o…
09 Restos
Hoje esqueci-me que ás vezes também podes ver
Às vezes também sabes ter noção
Hoje vens tu ver restos de mim no chão
Hoje esqueci-me que sabia perder,
que me tinhas na mão
Hoje vens tu perdida no mesmo chão
Quem não quis saber
Tirou a mão e partiu
Deu o que não tinha para levar
Fechei o corpo e fugi
Hoje vens tu
E eu já sei de cor
o travo do teu licor
e os restos de mim no chão
Quem não quis saber
Tirou a mão e partiu
Deu o que não tinha para levar
Fechei o corpo e fugi
...mas há sempre mais um dia
e nunca vai parar.
Quem não quis saber
Tirou a mão e partiu
Deu o que não tinha para levar
Fechei o corpo e fugi
10 Doce no Chão
Quis ficar com mais um doce na mão
quando tudo caiu no chão,
quase sem cor, gasto da dor e do passo do tempo
Mais a chuva a cair e os restos de ti por baixo do chão
Tentei apanhar mais um doce do chão
para ver o que ficou na mão
onde tudo chocou, desfeito em palavras e imagens de cor
que podem sorrir mas que sabem morrer
por baixo do chão
Quis saber o que foi tão escuro assim
que em nós só ficou a dor...e amor.
Por andar por sair por gritar
sem saber a hora de partir ou ficar
Quis ficar com mais um doce na mão quando tudo caiu no chão...
11 Copo Vazio
Pego no copo vazio que enche o tempo
e invento que há luz.
Não vês o copo vazio por onde fujo
sem ver?
Quem quer sai!
Quem quer sai!
Lá fora a dor é maior e ninguém quer sair...
Fico no copo vazio onde me lanço,
danço em paz.
Sou como um copo vazio,
ando num resto apagado,
sou como um rasto quebrado,
um rato,
um corpo fechado,
parou!
Quem quer sai!
Quem quer sai!
Lá fora a dor é real e ninguém quer sair...
Lá fora a dor é maior e ninguém quer cair...
Só quem quer.
12 Confiar
Por seres do céu
Por ser para ti.
talvez o sol te venha ver
Por ser o que eu também senti
o tempo é melhor para nós.
Talvez confiar…
Talvez confiar e esperar um dia sem dor.
Por ser um véu entre ti
talvez nunca vás mudar
Por nunca querer esquecer um fim
que teimas lembrar.
Não fui!
Não disse!
Não quis saber de restos de canções de amor.
que restam em refrões de cor
que teimas que te prendam
Ou talvez confiar!
Talvez confiar…
Talvez confiar e esperar um dia sem dor.
13 Tempos Adversos
Fui eu
Vem ver
Fui eu
Vem ver
Há vidros no chão
Há folhas no chão
Há livros no chão
Lutamos em vão
Claro que temos que andar
somos tempos adversos que puxam para trás
É claro que temos que ver a estrada,
que um dia a história acaba.
Quem foi?
Quem viu?
Quem foi?
Quem viu?
Os vidros no chão
são restos de nós
Os vidros no chão
perdem a voz.
Claro que vamos andar
entre tempos adversos que puxam para trás
É claro que temos que ver a estrada
que um dia a história acaba...
...Que um dia a história acaba.
14 Contos
Não posso ser só eu a dar sentido à razão
vais ter que vir tu e arrancar-me a escuridão
É que ás vezes quem vence fica sempre a perder
Vamos deixar de usar armas no que queremos ser.
Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
sem mais contos de embalar.
Não podes ser só tu a dar sentido ao buraco
se não te queres lembrar do que sentiste no fundo
Agora tens que vir tu saciar-me os segredos
porque é fácil de mais o que me queres vender.
Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
sem mais contos de embalar.
Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
Vais ter que despir o que tenho a mais
por ver sempre tudo a desconstruir
por cima da raiz que nunca sai
que volta a a crescer por não parar
que volta a crescer por ser maior
Voltou a crescer sem avisar
sem mais contos de embalar