Jardim - 2007
Atualizado: 9 de mai.

01 Canção simples
02 A ponte
03 O Labirinto
04 O lugar
05 Os dois
06 Outono
07 Voo
08 Amanhã
09 O campo
10 Noite demais
11 Fim da tarde
12 A praia
13 O jogo
14 Canção simples feat. Sara Tavares
01 Canção simples
Há qualquer coisa de leve na tua mão
qualquer coisa que aquece o coração
Há qualquer coisa quente quando estás
qualquer coisa que prende e nos desfaz
e fazes muito mais que o sol
fazes muito mais que o sol
Na forma dos teus braços sobre os meus
no tempo dos meus olhos sobre os teus
desço nos teus ombros para provar
tudo aquilo que pediste para me dar
e fazes muito mais que um sol
fazes muito mais que um sol
fazes muito mais que um sol
fazes muito mais...
Tens os raios fortes a queimar
todo o gelo frio o que construí
Entras no meu sangue devagar
e eu transbordar dentro de ti
Tens os raios brancos como um rio
Sou eu que saio do escuro para te ver
Tens os raios puros no luar
Sou quem grita fundo para te ter
fazes muito mais que o sol
fazes muito mais...
Quero ver as cores que tu vês
para saber a dança que tu és
Quero ser do vento que te faz,
quero ser do espaço onde estás
Deixa ser tão leve a tua mão
para ser tão simples a canção
Deixa ser das flores o respirar
para ser mais fácil te encontrar
fazes muito mais que o sol
fazes muito mais...
Vem, quebrar o medo, vem
saber se há depois
e sentir que somos dois
mas que juntos somos mais...
Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor
e fazes muito mais que um sol
fazes muito mais que um sol…
02 A ponte
Eu sem mim
Tu sem ti
A ponte ligou-me a mim
A ponte ligou-te a ti
Trocámos de margens sem ver
Largámos imagens sem querer
E enquanto a ponte ficou
passámos ao tempo maior
O céu ficou azul
e o Sol brilhou melhor
E se eu não sei quem sou
vens tu dizer-me a mim:
Vem aqui e vais ver!
Eu em ti
tu em mim
A ponte ligou-me a mim
a ponte ligou-me a ti
A ponte ligou-te a ti
a ponte ligou-te a mim
Trocámos de imagens sem querer
e amámos as margens sem ver
E enquanto a ponte ficou
passámos ao tempo maior
o céu ficou azul
e o sol brilhou melhor
e se eu não sei quem sou
vens tu dizer-me a mim:
Vem aqui e vais ver!
03 O Labirinto
A vida é distante
no tempo suspenso
A vida é distante
no nosso presente
É quente o que vejo
mas frio o que sinto
mentira o que tenho
mas sei o que vejo
no meu labirinto
A vida é distante
de tempo intenso
A vida é distante
no fumo imenso
É quente o pó
cego o nó
mentira o que vem
mas vejo o que sinto
no meu labirinto
No meu labirinto
há gente que cai
Depois de perder há gente que cai
Vê quem parou!
Olha o que dói!
A vida é distante
e o tempo foge
A vida é distante
e o tempo urge
Está quente o Sol
mas frio o chão
tudo é ilusão!!!
Não vês o que sinto
no meu labirinto?
Que enquanto se compra
e enquanto se quer
Enquanto se tira
o mundo suspira
Enquanto se mata
o mundo dispara
E vamos caindo... vamos caindo...
É isto que sinto no meu labirinto.
No meu labirinto
Há gente que cai
Depois de perder há gente que cai
Vê quem parou
Olha o que dói.
Quando chuva cai
vê que não sai!
Quando chuva cai
vê que não sai!
Entro no túnel para ver a luz
Quando chuva cai
vê que não sai!
Quando chuva cai
vê que não sai... não sai... não sai.
04 O lugar
Já é noite e o frio
está em tudo que se vê
Lá fora ninguém sabe
que por dentro há vazio
Porque em todos há um espaço
que por medo não se viu
onde a ilusão se esquece
do que o tempo não previu.
Já é noite o chão
é mais terra para nascer
A água vai escorrendo
entre as mãos a percorrer
todo o espaço entre a sombra
entre o espaço que restou,
para refazer a vida
no que o tempo não matou
Onde tudo morre tudo pode renascer
Em ti vejo o tempo que passou
e o sangue que correu
Vejo a força que me deu
quando tudo parou em ti
Na tempestade que não há em ti
arrastei-me para o teu lugar
e é em ti que vou ficar.
Já é noite e a sombra
está em tudo que se vê
Lá fora ninguém sabe
o que a luz pode fazer,
porque a noite foi tão fria
que não soube acordar
A noite foi tão dura
e difícil de sarar
Onde tudo morre tudo pode renascer
Em ti vejo o tempo que passou
e o sangue que correu,
vejo a força que me deu
quando tudo parou em ti
Na tempestade que não há em ti
arrastei-me para o teu lugar,
e é em ti que vou ficar
Porque eu descobri a casa onde posso adormecer
Eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
Aqui tudo é tão novo tudo porque pode ser amor
E onde tudo morre tudo volta a nascer
Em ti vejo o tempo que passou
vejo o sangue que correu
Vejo a força que me deu
quando tudo parou em ti
Na tempestade que não há em ti
arrastei-me para o teu lugar
e é em ti que vou ficar
Já é dia e a luz
está em tudo que se vê
Cá dentro não se ouve
o que lá fora faz chover
Na cidade que há em ti
encontrei o meu lugar,
e é em ti que vou ficar.
05 Os dois
Eu não sei quantas vezes te vais matar até eu cair
Eu não sei quantas vezes vais fugir para não voltar
Eu não sei qual das fugas iguais será excepção
E talvez um dia seja eu a largar a mão
Eu quero ver quantas vezes me vais ferir até ganhar
Quero saber se o que vem te dá razões para confiar
e entender que eu te sei sarar, te sei fazer feliz
Hoje vou-te querer roubar outra vez
Hoje vou-te querer provar outra vez
Vem viajar e ficando para depois... os dois.
Ninguém te vai prometer que é para sempre a paixão
Ninguém te vai jurar que é o fim da solidão
Mas eu não te sei apagar sem que possas entender:
o que o acaso nos mostrou a razão fez esquecer.
Porque eu sei que existir ao pé de ti é bem melhor
Eu sei que depois da tempestade vem azul
Eu já sei de cor o espaço do teu corpo para mim
Hoje vou-te querer roubar outra vez
Hoje vou-te querer provar outra vez
Vem viajar e ficando para depois... os dois.
Eu não sei quantas vezes te vais matar até cair
Mas se é tão fácil escurecer e tão simples eu fugir...
Hoje vou-te querer roubar outra vez
Hoje vou-te querer provar outra vez
Vem viajar e ficando para depois,
os dois.
06 Outono
Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te “meu amor”
Contra as regras do que somos, vou chamar-te “meu amor”
Hoje, só por ser diferente te encontrar
É tanto o fado contra nós
mas nem por isso estamos sós,
e embora fique tanto por contar
hoje, só por ser Outono, vou…
Entre dentes, entre a fuga, vou chamar-te “meu amor”
Enquanto não se encontra forma, vou chamar-te “meu amor”
Entre gente que é demais e tão pequena para saber
Que é tanto vento a favor
mas tão pouco o espaço para a dor
Só pode ficar tudo por contar…
Hoje, só por ser Outono, vou…
E há flores e há cores e há folhas no chão
que podem não voltar…
podes não voltar.
Mas é eterno em nós
e não vai sair…
Desce o tempo e a noite vem lembrar que as tuas mãos também
já não são de nós para ficar
Por ser tanto quanto somos,
certo quando vemos,
calmo quando queremos...
Hoje, só por ser Outono, vou…
07 Voo
Fico tão fraco
tão furiosamente fraco
Desmanchadamente transparente
Descontroladamente diferente
Gosto de ficar aqui,
não há espaço para esconder o fogo
e deixo-me escorregar...
Olha-me tão fraco
tão orgulhosamente chato
Despido e destemido, tão fraco
Perigosamente desfeito no teu leito
Gosto de ficar aqui,
não há espaço para esconder o corpo
e deixamo-nos escorregar...
Leva-me devagar
Vê-me tão alto
Desprendidamente alto
Inatingivelmente distante
Escondido entre as luzes... tão fraco...
Tenta-me tirar daqui...
já só quero descansar o corpo
e deixa-me flutuar...
Leva-me devagar...
08 Amanhã
Amanhã ainda estás cá
Amanhã é que vais ver
quem vai querer ficar para trás
quem vai querer passar em vão
Quem vai querer comer a terra
quando a terra está a arder
Quem vai querer parar a guerra
quando a guerra faz morrer
Quem vai querer lembrar a luz
quando escuro está o mundo
Tantas mãos presas ao mundo
e tão fundo, tão fundo
tão longe, tão cedo
tão negro, tão morto
tão sujo de nós!!
Tão alto, tão feio
tão esbelto e tão fraco
tão gordo e tão rato
Para quê?!
Meu Deus?!
És tu quem tem que ouvir
Sou eu quem tem que ver
Mas tu tens que agarrar
para eu poder puxar
Olha a terra pegou fogo
Olha a terra está a arder
Vai queimar as nossas pernas
Vai fazer mais fogo arder
Isto é o grito dos homens menores
a queimar o mundo puro
Vê que o mundo ficou mudo
só com medo de sofrer
Vê que o mundo quer matar
só com medo de morrer
Isto é a fé no tempo surdo
e tão fundo, tão fundo
tão longe, tão cedo
tão negro, tão morto
tão sujo de nós!!
Tão alto, tão feio
tão esbelto e tão fraco
tão gordo e tão rato
Para quê?!
Meu Deus?!
És tu quem tem que ouvir
Sou eu quem tem que ver
Mas tu tens que agarrar
para eu poder puxar
09 O campo
Quis agarrar a ti o mar
Quis agarrar a ti o Sol
Quis que o mar fosse maior
Quis que o mar tocasse o Sol
Quis que a luz entrasse em nós
inundasse o lado frio
Quis agarrar a tua mão
e descer o nosso rio
Quero agarrar a ti o céu
Quero agarrar a ti o chão
Quero que a chuva molhe o campo
que o campo seja teu
Para que eu cresça outra vez
quero agarrar a ti raiz
Quero agarrar a ti o corpo
e eu quero ser feliz...
Se tens medo da dor
vem ver o que é o amor
Se não sabes curar
vem ser o que é amar...
Quero ver-te amanhecer.
Quis agarrar a ti o barco
Quis agarrar a ti os remos
que usamos nas marés
quando as ondas são de ferro
Quero agarrar a ti a luta
Quero agarrar a ti a guerra
Quero agarrar a ti a praia
e o sabor de chegar a terra
Porque o mar tocou no Sol
inundou o lado frio,
o Sol ficou em nós
e desceu o nosso rio
Por isso dá-me a tua mão,
não largues sem querer
Quero agarrar a ti o mar
eu quero é viver.
Se tens medo da dor
Vem ver o que é o amor
Se não sabes curar
Vem ser o que é amar
Quero ver-te amanhecer.
10 Noite demais
É noite demais para ti
há tempo demais para mim
Se as flores não mudam de cor
vais ter que as deixar viver
Em terra que é feita de nós
toda a chuva daninha é de pó
Toda a erva que tentas forçar
vai sempre acabar por morrer
É noite demais para ti
há tempo demais para mim.
Todo o tempo que entornas em nós
é fuga por fora da dor
Todo o tempo que entornas em nós
é ferida que mata o amor
Se entornas mais sangue em nós
a ferida não vai sarar
a ferida não vai sarar
É noite demais para ti
há tempo demais para mim.
Se és tu quem não vai ceder
só me resta insistir
Se és tu quem não vai ceder
só me resta largar
e nem quero pensar
que tu possas viver
sem vontade de amar
sem vontade de ver...
que é noite demais para ti
há tempo demais para mim.
O meu mundo vai ruir só por te ver
Vais entrar na porta errada
e o meu mundo vai ruir
Vais tentar encontrar
outro campo com luz
para que possas plantar
e a semente crescer
Para que possam nascer
cordas fortes no chão
das que saibam manter
o teu corpo longe do meu.
11 Fim da tarde
Como foi que abriram a porta?
Como foi que entraram sem ligar
os dois a vaguear no espaço limpo, o espaço cedo, sem ninguém para pensar?
Como foi que as flores cresceram?
Como foi que o jardim se fez mulher para esquecer que à volta, tudo à volta faz tremer?
Como foi que de dentro do mundo fugiram para longe?
Quando foi que pensaram voltar?
Quando foi que adormeceram ao fim da tarde junto ao mar?
Quando foi que trancaram o rumo?
Quando foi que saíram sem ligar
os dois? inventaram que incerteza era razão para não ficar.
Como foi que tiraram da pele pó?
Como foi que despiram o espaço nu?
Os dois, desviando o veneno inventaram um tempo e do medo fez-se luz
Como foi que o riso nasceu e o escudo cedeu?
Quando foi que tentaram sair um do outro com tão pouco peso por cumprir?
Quando foi que o tiro furou? quando foi que deixaram de respirar?
Quando foi que adormeceram ao fim da tarde junto ao mar...?
Quando foi que trancaram o rumo?
Quando foi que saíam sem ligar
os dois? Inventaram que a incerteza era razão para não ficar.
...dois ramos novos a nascer
Dois ramos juntos sobre a luz
dois tempos frágeis para compor
um dia solto de dizer:
“tu aqui
é bom para mim.
E tu aqui
é bom”
Como foi que largaram o peso?
Quando foi que deixaram flutuar?
Os dois encontraram na incerteza a razão para reparar que tu aqui é bom para mim.
Ninguém quer saber
Há medo de rir
Ninguém quer ceder para ser quem restou
Ninguém vai olhar para ser quem amou
E tu aqui é bom para mim
E eu aqui é bom para ti.
12 A praia
Como sabes eu não sei fugir
Como sabes eu não vou mentir
Sente o veneno já tão perto da foz,
mas como sabes há imunidade em nós
Como vês não inventam mais nada
Como vês já não ouvem ninguém
Os lobos uivam mas dançamos mais alto
e como sabes eu vou querer dançar também
Na praia, como nós, há um barco à beira mar à espera da maré
É urgente navegar...
Vi-te logo quando entraste em casa
Vi-te perto pelo teu sabor
Vejo sempre que te encosto o corpo
Frio de noite, junto ao Sol
Como sabes eu não vou dizer
que é tão profunda toda a dimensão
entre todo o espaço que nos faz ser Homens
e a Liberdade que pode ficar Prisão
Na praia, como nós, há um barco à beira mar à espera da maré
É urgente navegar...
Minha triste flor deixa a minha triste mão entrar...
Como sabes já não sei fugir
Como sabes eu vou querer esperar
até ao dia em que as flores regressam
até ao dia em que vais querer chegar.
Na praia, como nós há um barco à beira mar à espera da maré
Vem comigo navegar...
13 O jogo
Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou
Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor
És tu quem quer,
sou eu quem não quer ver que o tudo é tão maior.
Aqui está frio demais para apostar em mim.
Vê que a noite pode ser tão pouco como nós
Neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós
És tu quem quer
mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi
que aqui está frio demais para te sentir... mas queres ficar.
Tudo o que é meu
é tudo o que eu
não sei largar
Queres levar
tudo o que é meu
e tudo o que eu
não sei largar
Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!
Vem que a água vai lavar o que te dói!
Vem que nem o último a cair vai perder.
Tudo o que é meu
é tudo o que eu
não sei largar
Queres levar
Tudo o que é meu
e tudo o que eu
não sei largar
Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!
Vem que a água vai lavar o que te dói!
Vem que nem o último a cair vai perder.
14 Jardim
Quero-te regar, minha flor
Quero cuidar de ti
Deixa-me entrar no Jardim
Deixa-me voltar a dormir
Quero-te regar, minha flor
Dar-te de novo a paz que perdi
Quero desvendar a parte triste que há em ti
Deixa-me existir no espaço novo que acordaste em mim
Não vês que é de nós o Jardim que se fez
Não vês que é para nós o Jardim que nos faz
Ai... olha que este frio faz tremer
Ai... fica e faz voltar o que tens e que é meu.
Não vês que é de nós o Jardim que se fez
Não vês que é para nós o Jardim que nos faz
Ai... olha que este rio faz crescer
Ai... fica e faz voltar o que tens e que é meu.