do princípio - 2014
Atualizado: 4 de jan.

01 Morena
02 Maria
03 Aquilo Que Eu Não Fiz
04 Sol de Março
05 Do Princípio
06 Fúria e Paz
07 O Que Mereço
08 O Povo Cantava
09 Ameaça
10 Aproxima-te Então
11 Sara
12 Pássaro
Esta morena não sabe
o que o dia tem para lhe dar
Diz-me que tem namorado
mas sem paixão no olhar
Tem um risinho pequeno
e que só dá de favor
Corpo com sede de quente
mas que não sente o calor
Esta morena não dança
quando lhe mostro Jobim
Talvez não goste da letra
Talvez não goste de mim
Cabelo negro sem regra
caindo em leve ombro nu
feito de morno passado
e amor que nunca cegou
Morena no fundo quer tempo para ser mulher
Morena não sabe bem, mas eu no fundo sei
que quando o véu lhe cai,
quando o calor lhe vem,
sempre que a noite quer,
sonha comigo também
Há sítios que ela não usa
por não saber que estão cá
Há mares que ela não cruza
por não ser eu a estar lá
É de mim que ela precisa
para lhe dar o que não quer
Talvez lhe mostre caminhos
onde se queira perder
Esta morena não chora
com um fado negro de Oulman
nem com um poema de O'Neil
na primeira luz da manhã
Sabe de tantos artistas
Canta-me letras de cor
mas não lhe passam por dentro
não lhes entende o sabor
Morena no fundo quer tempo para ser mulher
Morena não sabe bem, mas eu no fundo sei
que quando o véu lhe cai,
quando o calor lhe vem,
sempre que a noite quer,
sonha comigo também
Esta morena não corre quando a chamo pra mim
(E quando ela foge
tanto lhe faz
Quando eu me for
morena não vem atrás)
02 Maria
Que bonita é Pilar...
mas eu não a quero
Que bonita é Leonor...
mas eu não a quero
Inês sabe quanto vale...
mas eu não a quero
Carolina quer-me bem,
mas eu não a quero
Júlia diz que quer também
mas eu não a quero
...eu quero é Maria
Ana dança para mim
mas eu não a quero
Margarida faz que sim
mas eu não a quero
...eu quero é Maria
Maria sabe quem sou por trás das luzes
Sabe quem sou por trás da luz
e só eu sei quem Maria, é
03 Aquilo Que Eu Não Fiz
Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
Não fui eu que gastei
Mais do que era pra mim
Não fui eu que tirei
Não fui que comi
Não fui eu que comprei
Não fui eu que escondi
Quando estavam a olhar
não fui eu que fugi
Não é essa a razão
para me quererem moldar
porque eu não me escolhi
para a fila do pão
Este barco afundou
houve alguém que o cegou
Não fui eu que não vi
Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
Talvez do que não sei,
talvez do que não vi
foi de mão para mão
mas não passou por mim
e perdeu-se a razão
todo o bom se feriu
foi mesquinha a canção
desse amor a fingir
Não me falem do fim
se o caminho é mentir
Se quiseram entrar
não souberam sair
Não fui eu quem falhou
Não fui eu quem cegou
Já não sabem sair
EEu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
não me fazem ver que fui eu que errei
Meu sonho é de armas e mar
Minha força é navegar
Meu norte em contraluz
Meu fado é vento que leva e conduz
04 Sol de Março
O que não está bem, está mal, pois bem,
se eu quiser ser o bem, do mal, de alguém
Talvez o que eu seja queira andar
Talvez o que eu queira seja amar
Talvez o meu nome seja teu
Talvez em teu nome seja o meu
E no fim do dia quem quiser
há-de se inventar depois da dor
E no fim do dia quem se der
há-de ser melhor
Quando não sou livre quero ser
tudo o que está dentro da razão
Quando não estou vivo quero ter
o que não faz parte da canção
Talvez o que eu seja vá mudar
tudo o que não seja em mim perdão
mas o que este dia vem dizer
tudo o que esta luta quer mostrar,
que no fim do dia quem se der
há-de querer ficar
E por tudo o que eu não soube ser
dou-te o sangue do meu corpo vão
E por tudo o que não quis perder
entre a raiva do meu coração
Entre o sol de março a bater
e a curva da desilusão
Entre a casa quente do amor
e o jogo ardente da paixão
E por tudo o que não sei dizer
perdão.
05 Do Princípio
Faz-te bem não pensar de mais no que é melhor para ti
Faz-te bem descansar depois da fuga até aqui
O principio é feliz, no segredo entre as marés
Quando ninguém está a olhar, não vês
O meu principio é aqui
quando este rio se dá ao mar
quando este norte nos largar
O meu principio é aqui
Faz-te bem apagar da pele a linha que escrevi
Faz-te bem não levar o céu que inventei para ti
O principio é feliz, no segredo entre as marés
Quando ninguém está a olhar, mas vês
O meu principio é aqui
quando este rio se dá ao mar
quando este norte nos largar
O meu principio é aqui
Onde esta fuga nos levar
Onde o teu corpo não vier
Onde o meu sangue não pedir
Onde este norte nos levar
06 Fúria e Paz
Minha fúria, minha paz, meu bem
se não fiz o que devia foi talvez porque temia
não te saber serenar
a luta que por dentro
fazia alimento
do mundo a gritar
Não me ouviste chamar
do alto deste monte
tão longe da mentira,
mas perto está o dia
A água desta fonte
só nos pode lavar
A sombra não te via,
mas alto é o nosso monte
bem onde o tempo brilha
Não me ouviste chamar
mas quando à noite vens, eu sei
que és minha
Minha ausência, minha luz, eu sei
que nem sempre te fiz bem
bem longe do que querias
Não te soube encontrar
no fundo da maldade
puxar-te a verdade
para poderes confiar
Não me ouviste chamar
do alto deste monte
tão longe da mentira,
mas perto está o dia
A água desta fonte
só nos pode lavar
Mas quando à noite vens eu sei
que és minha
07 O Que Mereço
Esta noite não chega ao fim
Esta noite não chega ao fim
Não há luz ao fim do túnel
Não há luz ao fim do túnel
Esta noite não chega ao fim
Esta selva não chega ao fim
Esta selva não chega ao fim
Rasga-me mas não me quebra
Rasga-me mas não me quebra
Esta selva não chega ao fim
A desilusão é só mais um passo
há que saber perder, ceder o espaço
Se a desilusão é tudo o que penso
há que saber lembrar o que mereço
Este tiro quer perfurar
Este tiro quer perfurar
Bala no meu peito aguenta
Bala que o meu peito enfrenta
Este tiro quer perfurar
A mentira não chega ao fim
A mentira não chega ao fim
Olha-me mas não de frente
Olha-me e a toda a gente
A mentira não chega ao fim
A desilusão é só mais um passo
há que saber perder, ceder o espaço
Se a desilusão é tudo o que penso
há que saber lembrar o que mereço
08 O Povo Cantava
O povo cantava mas ninguém ouviu
Os olhos pediam mas ninguém se viu
Ergueram-se braços e alguém gritou:
"Lento vazio
que nos secou
Negro este sim
que nos ganhou"
Sei que procurámos mas não há razão
capaz desta fuga pelo coração
capaz deste risco de não ser ninguém
Leve ilusão
quer desviar
a direcção
O mundo a pedir
O mundo a mudar
Ninguém vai ouvir
Ninguém vai olhar
Mas terei a luz
na escuridão
Dentro da pele
deste perdão
Sitio melhor
para conquistar
que sabemos ser
sem nunca chegar
Lançaram palavras sobre a solidão
Falou-se de culpas pediu-se perdão
Há esta maneira de se desviar a direcção
Secreto mar
de escuridão
O mundo a pedir
O mundo a mudar
Ninguém vai ouvir
Ninguém vai olhar
Mas terei a luz
na escuridão
Dentro da pele
deste perdão
Sitio melhor
para conquistar
que sabemos ser
sem nunca chegar
O povo avançava mas já sem lugar
Pede-se justiça mas já sem julgar
Meu corpo cedeu quanto o teu chorou
Negra ambição
que nos cegou
Lento vazio
de querer voltar
ao que passou
09 Ameaça
No segredo da manhã
entre o sol e a vidraça
somos mais do que esta aurora que se arrasta
Há no ar uma razão
A ansiedade que nos caça:
Somos mais que esta ameaça
E quando a noite cai
e o teu corpo vem,
joga-se o calor
de um abraço vão
Olhas para mim
Toco-te na mão
Sabes o que sou
Diz-me tu então:
No silêncio que trespassa
somos mais que esta ameaça?
Do acaso que nos leva
ao caminho que nos junta
somos mais do que esta dança em contracurva
Há um sítio que nos quer
Um poente que nos chama
à semente como cura
E quando a noite cai
e o teu corpo vem,
joga-se o calor
de um abraço vão
Olhas para mim
Toco-te na mão
Sabes o que sou
Diz-me tu então:
No silêncio que trespassa
somos mais que esta ameaça?
10 Aproxima-te Então
Aproxima-te então
quase até ao toque
já não há perdão
Atira-me ao chão
Desvia-me da morte
Já não há perdão
Aproxima-te então
Quando o jogo nos separa
junto à curva da canção
Quando o medo te demora
mesmo antes do refrão
Tudo à noite se namora
Toda a lua nos devora
Aproxima-te então
Tira-me do centro
Puxa-me para dentro
Mostra-me quem sou
Tira-me do centro
Puxa-me para dentro
Pede-me que eu dou
Atira-te ao chão
Neste sítio perto
Já não há perdão
Atira-me ao chão
Neste sítio certo
Já não há perdão
Aproxima-te então
Quando o jogo nos separa
junto à curva da canção
Quando o medo te demora
mesmo antes do refrão
Tudo à noite se namora
Toda a lua nos devora
Aproxima-te então
11 Sara
Sei que deste o teu melhor
Sei que foste o que o dia deixou
Sei que deste a tua dor
e eu não te soube dar o meu perdão
Mas talvez esta gota de água
de uma fonte afastada
te tenha mostrado o caminho
Talvez esta ponte escura
onde a solidão trespassa
Talvez esta aventura
tenha me levado a casa
Sara
Tudo o que dói, sara
No meu peito grita
tudo o que acredita
Se fogo leva a dor, fica o que há depois
Longe da paixão, diz-me se há perdão
Sara
Não te soube encontrar
quando o grito nos cegou
Fraco corpo sobre a praia
Leve sombra que o mar apagou
Mas talvez esta nova espada
já de frente para a batalha
nos possa mostrar o caminho
Talvez hoje o mar adentro
onde o coração dispara
onde o nosso amor de sempre
pode nos levar a casa
Sara
Tudo o que dói, sara
No meu peito grita
tudo o que acredita
Se fogo leva a dor, fica o que há depois
Longe da paixão, diz-me se há perdão
Sara
Sara
Tudo o que dói sara
E no meu peito grita
tudo o que acredita
Se fogo leva a dor, fica o que há depois
Longe da paixão, diz-me se há perdão
Depois do que foi, diz-me se o que dói, sara.
12 Pássaro
Se eu quiser ficar aqui agora
junto ao bater desta ilusão
Vê que a lua cheia não demora
e o luar faz bem ao coração
Não digas que agora não é hora
Não digas que há gente pra esquecer
Vê como esta dança só melhora
Não existe tempo pra perder
O pássaro não vai pousar
O nosso amor não vai dormir
O vento não quer deixar
o nosso amor cair
Sempre que esta corda não se solta
Sempre que nos puxa para nós
Somos tudo o que nos quer de volta
Não digas que por ti tanto faz
O pássaro não vai pousar
O nosso amor não vai dormir
O vento não quer deixar
o nosso amor cair
Tudo o que está certo não se apaga
Tudo o que o destino quer mostrar
Olha-me nos olhos não te voltes
Olha-me não olhes para trás
O pássaro não vai pousar
O nosso amor não vai dormir
O vento não quer deixar
o nosso amor cair